Cecília Gomes
Ao entrar pela primeira vez na Faculdade de Direito do Recife tive a impressão de estar dentro de um palácio (acho que todo calouro e toda caloura se sente assim). Um prédio tão belo e recheado de história por aquelas paredes opacas, só me deslumbrava e me fazia crer que ali eu aprenderia – efetivamente- a arte de ser uma boa jurista. Hoje, mais de um ano depois da minha primeira visita ao palácio, constato que o vislumbre com o prédio histórico e a ideia de aprendizagem aprofundada no ramo jurídico não são mais compatíveis como a minha mente havia tão utopicamente projetado.
Ao entrar pela primeira vez na Faculdade de Direito do Recife tive a impressão de estar dentro de um palácio (acho que todo calouro e toda caloura se sente assim). Um prédio tão belo e recheado de história por aquelas paredes opacas, só me deslumbrava e me fazia crer que ali eu aprenderia – efetivamente- a arte de ser uma boa jurista. Hoje, mais de um ano depois da minha primeira visita ao palácio, constato que o vislumbre com o prédio histórico e a ideia de aprendizagem aprofundada no ramo jurídico não são mais compatíveis como a minha mente havia tão utopicamente projetado.
O
dia a dia acadêmico demonstra que o aluno necessita traçar o seu próprio
caminho e aprender a ser autodidata. Ora, mas não é assim em todo e qualquer
instituição de ensino superior? Não, não é. E mesmo que fosse, por que teríamos
(nós, alunos) que apenas aceitar um modelo falho, ao invés de tentar
estabelecer um –mínimo- de diálogo com a Instituição (servidores, coordenação,
administração, professores, direção)?
Quando
ouço a expressão “Comunidade Acadêmica” me vem em mente a ideia de um lugar em
que exista diálogo, respeito mútuo, produção de artigos, arte e pesquisa
constante; um lugar no qual o fluxo de ideias seja constante e instigado. Ao
sair do mundo abstrato das ideias e abrir os olhos para a realidade, noto que
há uma discrepância palpável. Muitas vezes esse fluxo de ideias é tolhido para
que se reproduza com maestria tudo aquilo que encontra-se no CPC, CPP, CT e
tantos outros C’s que o aluno literalmente engole para passar no Exame da Ordem
ou em algum concurso público. Me questiono até que ponto é saudável propagarmos
todos anos que somos os melhores no Exame da Ordem e não atentarmos para a
realidade do aluno e da instituição.
É
preciso, contudo, saber a maneira adequada de tecer a crítica e fazer com que
ela não torne-se apenas a “crítica pela crítica”. Acredito fortemente que
chegar apontando os erros somente não é produtivo, não constrói e não faz
absolutamente nada além de alertar que existe algo errado. E de que adianta mostrar
isto e não se dispor a resolver, dialogar e buscar um ponto de convergência
entre os interesses de todos? Não é uma tarefa fácil iniciar uma mudança num
comportamento que vem sendo propagado há décadas, entretanto não é impossível.
Quando existir um pouco de boa vontade e interesse de pelo menos boa parte
daqueles que compõe a FDR (docentes, discentes, servidores...) será possível
concretizar mudanças (uma vez que TODOS assumiriam o compromisso) e ter de fato
uma EDUCAÇÃO jurídica; e não o excesso da mera reprodução do código pelo
código.
O
Direito só tem uma razão de ser para atender as demandas da
sociedade. E se a sociedade mostra-se em constante mudança, por que deveria o
Direito permanecer estático? É imprescindível que novas formas de pensar, novos
caminhos para resolução de conflitos e o simples incentivo a novas pesquisas
seja fomentado pela Instituição. Tenho dentro de mim a esperança que um dia a
FDR volte a ser um centro difusor de educação e cultura jurídica de outrora.
Mais do que isso, que a beleza do prédio histórico seja capaz de refletir e
incentivar a beleza das mentes que estão ali dentro. A mudança não se dará dá
noite para o dia. Muito pelo contrário, é um processo árduo e que pode levar
anos. Faz-se preciso, contudo, a saída do estado inerte, o reconhecimento de
que a mudança é mais do que salutar e o início de uma nova fase.
O mestre pernambucano Paulo Freire, que também aprendeu e circulou pelos corredores desse belíssimo Palácio do Saber que, forma as elites do conhecimento jurídico, desde 1912, disse que "aprendizagem começa pela leitura do mundo", depois se vai para o livro. E, para ele, que deve ter se cansado das preleções teórico-jesuítico-metafísico-escolásticas de artigos, incisos e alíneas, a única educação é aquela que parte do educando, é a educação ativa. Parabéns pelo belíssimo texto, ele mostra que há esperança... porque vocês existem!
ResponderExcluirO mestre pernambucano Paulo Freire, que também aprendeu e circulou pelos corredores desse belíssimo Palácio do Saber que, forma as elites do conhecimento jurídico, desde 1912, disse que "aprendizagem começa pela leitura do mundo", depois se vai para o livro. E, para ele, que deve ter se cansado das preleções teórico-jesuítico-metafísico-escolásticas de artigos, incisos e alíneas, a única educação é aquela que parte do educando, é a educação ativa. Parabéns pelo belíssimo texto, ele mostra que há esperança... porque vocês existem!
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